Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): como é feito o diagnóstico?
O TDAH é um dos transtornos de neurodesenvolvimento mais comuns e mais impactantes ao sujeito. Sua característica central são as dificuldades no controle da atenção e da autorregulação.
Jonas Jardim de Paula
O TDAH é um dos temas centrais da avaliação psicológica e neuropsicológica hoje em dia. É um dos transtornos de neurodesenvolvimento mais comuns e mais impactantes ao sujeito. Sua característica central são as dificuldades no controle da atenção e da autorregulação. Um bom resumo desse transtorno é apresentado por Costa e colaboradores.
Ao contrário do que muitos pensam não existem um “teste” diagnóstico para o TDAH. Assim como qualquer outro transtorno mental, salvo raríssimas exceções, o diagnóstico do TDAH é clínico, realizado por entrevista com o paciente e seus familiares, com foco em suas queixas atuais e pregressas, curso clínico, prejuízo funcional e diagnósticos de exclusão. Contrário ao senso comum e à expectativa de muitos profissionais, testes psicológicos ou neuropsicológicos de atenção são muito ruins para a detecção do quadro, com muitos erros do tipo falso positivo mais principalmente erros do tipo falso negativo. Testes e exames biológicos, como ressonância magnética do encéfalo, tomografia ou eletroencefalograma são utilizados para excluir outras condições que podem acarretar queixas de atenção e hiperatividade. Neste contexto, como devo proceder?
Atente-se aos critérios diagnósticos mais atuais do transtorno, disponíveis na quinta edição do manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais (DSM-5), é a principal referência para o diagnóstico. Vamos detalhar passo a passo com base nos cinco critérios necessários para diagnosticar o TDAH.
A) Sintomas e queixas: desatenção e/ou hiperatividade, atípicos para a idade ou estágio de desenvolvimento, com duração de no mínimo seis meses, com impacto negativo claro no dia a dia do seu paciente. O manual lista diversos sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade. São necessários ao menos seis sintomas de uma das dimensões para que esse critério diagnóstico seja positivo (cinco para adolescentes mais velhos ou adultos). A escala SNAP-IV pode te ajudar nessa avaliação. Atente-se para a duração mínima dos sintomas e sua repercussão negative. Na entrevista, certifique-se do prejuízo causado por esses sintomas.
B) Curso clínico: os sintomas do TDAH têm início precoce, sendo visíveis em boa parte dos casos antes da idade escolar. Tenha certeza que os sintomas do transtorno estão nítidos antes dos 12 anos de idade.
C) Múltiplas áreas de funcionamento afetadas. Esse critério é muito importante, uma vez que o TDAH é um transtorno de neurodesenvolvimento, crônico e constante. A escola é o ambiente infantil mais propenso a ser comprometido pelos sintomas, mas os mesmos devem ocorrer em ao menos dois contextos (casa, vida social, autocuidado, trabalho, hobbies...).
D) Prejuízo funcional. Critério fundamental a todo o transtorno mental. Costumo dizer a meus alunos que uma queixa só configura como transtorno mental se efetivamente causa transtorno ao sujeito. Para esse critério diagnóstico é necessário que você avalie o impacto negativo dos sintomas do TDAH no funcionamento do seu paciente, quer em termos escolares, sociais, profissionais ou outros. Os sintomas causam prejuízo ao reduzirem a qualidade do funcionamento nesses contextos, exigirem esforço incompatível com as tarefas, levarem a sofrimento psicológico (angústia), dentre outros fatores.
E) Diagnósticos de exclusão. Este é seguramente o tópico mais negligenciado do diagnóstico do TDAH. A ideia do critério é que se os sintomas ocorrem apenas durante o curso de outro transtorno mental, ou os sintomas são melhor explicados por outro quadro, você não deve fazer o diagnóstico. Muitas vezes é necessário o tratamento de outras condições clínicas para um diagnóstico mais acurado do TDAH. Aos não-médicos, é vital que o paciente passe pela avaliação de um profissional de medicina, dado que muitas doenças podem gerar sintomas semelhantes aos do TDAH, simulando o quadro.
Feito isso tudo devemos ainda especificar a apresentação atual (desatenta, hiperativa ou combinada, conforme os sintomas do critério A), se o caso está em remissão (no caso, por exemplo, de um tratamento para os sintomas) e por fim a gravidade do quadro (leve, moderada ou grave). São muitos passos e certamente não é um diagnóstico fácil, mas o fluxo acima, se seguido e avaliado com parcimônia, permite o diagnóstico acurado do paciente.
1- Jonas Jardim de Paula. Psicólogo, mestre em neurociências (UFMG) e doutor em medicina